Participantes de encontro promovido pelo Observatório do Futuro do TCESP afirmam ser inviável esperar a vacina

Seis meses se passaram desde que as instituições de ensino do Estado de São Paulo começaram a ser gradualmente fechadas em função da pandemia do Novo Coronavírus. A medida foi acertada diante das informações disponíveis naquele momento, mas chegou a hora de os estudantes voltarem às escolas.

Especialistas que participaram hoje de debate organizado pelo Observatório do Futuro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo foram unânimes sobre a urgência da retomada das aulas.

“Em 8 de setembro começamos a voltar e não tivemos problemas. É importante voltar vagarosamente, mas voltar”, declarou o Secretário Estadual da Educação, Rossieli Soares.   “Se não fizermos isso, nem em 2021 estaremos preparados.”

Presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, o médico Marco Aurelio Sáfadi avalia que, do ponto de vista sanitário, o momento também é favorável. “O cenário para a reabertura é consistente com a queda no número de casos. Provavelmente a demora em controlar a doença tenha sido um dos motivos para que a retomada das aulas tenha se arrastado”, afirmou.

“Quem defende a reabertura das escolas não é contra a vida”, disse Gabriel Corrêa, gerente de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, organização da sociedade civil dedicada ao tema. “Mas o Brasil já é um dos países com mais tempo de fechamento dos colégios. Obviamente que, para isso, não pode haver transmissão intensa (do vírus) e as escolas têm que respeitar todos os protocolos.”

Segundo Sáfadi, ao contrário do que se pensava inicialmente, os grandes responsáveis pela transmissão do Novo Coronavírus não são as crianças, mas os jovens adultos. Ele explica, entretanto, que, devido ao ineditismo da situação, as decisões foram baseadas nos prognósticos de doenças provocadas pelo vírus influenza, causador de muitos tipos de gripe na população infantil.

“E fechar escolas pode não ter sido importante para evitar a transmissão do Corona, como pensávamos, mas as crianças ficaram menos doentes, o que liberou hospitais para os infectados”, afirmou o secretário. “Isso mostra 
que essa geração fez o maior sacrifício da história para preservar os mais velhos.”

Esperar o surgimento de uma vacina segura e eficaz também seria inviável. “Os testes que estão sendo feitos incluem majoritariamente adultos. Os estudos em crianças e adolescentes são tímidos. E só podemos indicar a imunização para os grupos estudados. Acho improvável que consigamos vacinar crianças antes de 2022”, explicou Sáfadi. 

O desafio, a partir de agora, então é garantir ambientes salutares e priorizar conteúdos do currículo escolar.

“Será importante fazer diagnósticos sobre o que os alunos realmente aprenderam nesse período e elencar competências prioritárias”, disse Corrêa. “Criar materiais específicos, preparar os professores para o uso da tecnologia, investir no ensino híbrido (presencial e à distância) são alguns caminhos. 2021 vai ter muito conteúdo de 2020, talvez precisemos ampliar o calendário escolar também.”

Entre as medidas sanitárias apontadas como essenciais nas escolas estão ambientes ventilados, limitação de interação entre as classes, escalonamento de intervalos, fechamento de bebedores, limitação da entrada de pais nos colégios sempre que possível e o monitoramento de eventuais sintomas apresentados por alunos (febre, tosse, coriza, perda de olfato e paladar, diarreia e vômito) e funcionários. A volta de estudantes e profissionais com doenças crônicas também deve ser avaliada por um médico. 

O momento também é desafiador para os prefeitos que assumirão em 2021. Por isso, ainda que as aulas não sejam retomadas este ano em algumas cidades, cabe aos atuais chefes dos executivos organizar esse processo. “Quem não começou ainda já está atrasado”, declarou Corrêa.

Cerca de 1.200 pessoas, entre professores, representantes de escolas, prefeituras, diretorias de ensino, controladorias, departamentos de tecnologia e tribunais de contas acompanharam a transmissão, feita com o apoio da Escola Paulista de Contas Públicas e do Departamento de Tecnologia de Informação do TCESP.

“Ficou claro que não foi um ano perdido”, afirmou a mediadora e coordenadora do Observatório do Futuro, Manuela Prado Leitão. “Temos muitos desafios e problemas, mas nada disso deve servir de desculpa para retroagirmos. Pelo contrário, temos que usar essa experiência como uma oportunidade para refletir sobre prioridades e pensar em avançar.” 

“E a agenda 2030 não pode ser prejudicada. Em 10 anos, não temos só que recuperar (o terreno perdido), mas avançar. Se uma sociedade não prioriza a educação, não há avanço”, completou o secretário.

O debate completo pode ser acessado pelo link https://youtu.be/dZTdKRqCO9w.