As concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera estão em níveis recordes; as emissões que tiveram declínio temporário devido à pandemia estão caminhando para níveis pré-COVID-19, enquanto as temperaturas globais continuam atingindo novos picos, de acordo com um novo relatório da ONU.

Sobre o estado do clima global, o relatório indica que a temperatura média global para 2016-2020 deve ser a mais alta já registrada, cerca de 1,1 grau Celsius acima de 1850-1900 (período de referência para a mudança de temperatura desde os tempos pré-industriais) e 0,24 grau Celsius mais quente do que a temperatura média global para 2011-2015.

“Temos uma escolha: continuar como sempre, levando a mais calamidades; ou podemos usar a recuperação da COVID-19 para fornecer uma oportunidade real de colocar o mundo em um caminho sustentável”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.

 

Temperatura média global para 2016-2020 deve ser a mais alta já registrada
Inundações em Belet Weyne, Somália. Foto: UNSOM

 

As concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera estão em níveis recordes; as emissões que tiveram declínio temporário devido à pandemia estão caminhando para níveis pré-COVID-19, enquanto as temperaturas globais continuam atingindo novos picos, de acordo com um novo relatório da ONU.

O documento “United in Science 2020“, lançado na quarta-feira (9), destaca os impactos crescentes e irreversíveis das mudanças climáticas em geleiras, oceanos, natureza, economias e seus custos para as pessoas em todo o mundo; manifestam-se cada vez com mais frequência por meio de desastres, como ondas de calor recordes, incêndios florestais, secas e inundações.

Falando no lançamento do relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou que “não há tempo a perder” se o mundo pretende abrandar a tendência dos impactos devastadores das alterações climáticas e limitar o aumento das temperaturas a 1,5 grau Celsius.

“Quer estejamos enfrentando uma pandemia ou a crise climática, é claro que precisamos de ciência, solidariedade e soluções decisivas”, disse Guterres.

“Temos uma escolha: continuar como sempre, levando a mais calamidades; ou podemos usar a recuperação da COVID-19 para fornecer uma oportunidade real de colocar o mundo em um caminho sustentável”, acrescentou.

O secretário-geral delineou seis ações relacionadas ao clima para moldar a recuperação da COVD-19, a fim de garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

As seis ações incluem: gerar novos empregos e negócios por meio de uma transição limpa e verde; tornar os resgates públicos condicionantes de empregos verdes e crescimento sustentável; migrar da economia cinza para a economia verde, tornando as sociedades e as pessoas mais resilientes; canalizar investimentos de fundos públicos para setores e projetos sustentáveis ​​que ajudem o meio ambiente e o clima; levar em consideração os riscos e oportunidades do clima no sistema financeiro, bem como na formulação de políticas públicas e infraestrutura; e trabalharmos juntos como uma comunidade internacional.

“Enquanto trabalhamos para enfrentar a pandemia de COVID-19 e a crise climática, exorto os líderes a prestarem atenção aos fatos deste relatório, unirem-se por trás da ciência e tomarem medidas urgentes no clima”, acrescentou Guterres, instando os governos a prepararem planos climáticos nacionais ambiciosos, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), antes da COP26.

“É assim que construiremos um futuro mais seguro e sustentável.”

 

A mudança climática continua inabalável

 

Em uma de suas principais descobertas, o relatório afirma que as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) “não mostraram sinais de terem chegado ao pico” e continuaram a atingir novos recordes.

 

Estações de referência na rede WMO Global Atmosphere Watch relataram concentrações de CO2 acima de 410 partes por milhão (ppm) durante o primeiro semestre de 2020, com Mauna Loa (Havaí) e Cape Grim (Tasmânia) em 414,38 ppm e 410,04 ppm, respectivamente, em julho 2020, acima dos 411,74 ppm e 407,83 ppm no mesmo mês do ano passado.

“As concentrações de gases de efeito estufa — que já estão em seus níveis mais altos em 3 milhões de anos — continuaram a aumentar”, disse Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), no prefácio do relatório.

Enquanto isso, grandes áreas da Sibéria viram uma onda de calor prolongada e notável durante o primeiro semestre de 2020, o que teria sido muito improvável sem a mudança climática antropogênica. E agora 2016-2020 deve ser o período de cinco anos mais quente já registrado, ele continuou.

“Embora muitos aspectos de nossas vidas tenham sido interrompidos em 2020, a mudança climática continuou inabalável”, acrescentou Taalas.

 

Conclusões

 

De acordo com o relatório, as emissões de CO2 em 2020 cairão entre 4% e 7% em 2020 devido às políticas de distanciamento social impostas pela pandemia de COVID-19. O declínio exato dependerá da trajetória contínua da pandemia e das respostas dos governos para enfrentá-la.

 

Em abril de 2020, no auge dos lockdowns relacionados à COVID-19, as emissões globais diárias de CO2 caíram 17% em comparação com o ano anterior, uma queda sem precedentes. No entanto, no início de junho, as emissões haviam retornado a um patamar 5% inferior aos níveis de 2019.

O relatório observa que, embora a lacuna de emissões — a diferença entre o que precisamos fazer e o que estamos realmente fazendo para enfrentar as mudanças climáticas — seja ampla, ela ainda pode ser superada com ações urgentes e concertadas de todos os países e setores.

Sobre o estado do clima global, o relatório indica que a temperatura média global para 2016-2020 deve ser a mais quente já registrada, cerca de 1,1 grau Celsius acima de 1850-1900 (período de referência para a mudança de temperatura desde os tempos pré-industriais) e 0,24 grau Celsius mais quente do que a temperatura média global para 2011-2015.

 

Impacto da COVID-19 nas observações do sistema terrestre

 

O relatório também documenta como a pandemia de COVID-19 impediu a capacidade de monitorar as mudanças no clima por meio do sistema de observação global, o que por sua vez afetou a qualidade das previsões e outros serviços relacionados ao tempo, clima e oceano.

 

Observações baseadas em aeronaves tiveram grandes reduções, medições manuais em estações meteorológicas e de rios foram gravemente afetadas e quase todos os navios de pesquisa oceanográfica estão nos portos, devido ao impacto direto ou secundário da pandemia.

Os impactos no monitoramento das mudanças climáticas são de longo prazo, de acordo com o relatório. Eles provavelmente impedirão ou restringirão campanhas de medição do balanço de massa das geleiras ou da espessura do pergelissolo (tipo de solo encontrado na região do Ártico), geralmente conduzidas no final do período de degelo.

 

Sobre o relatório

 

O relatório United in Science 2020, o segundo da série, é coordenado pela Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (OMM), com contribuições do Global Carbon Project, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do UK Met Office.

 

O relatório reúne as últimas atualizações relacionadas à ciência do clima de um grupo de organizações parceiras globais importantes. Apresenta os mais recentes dados científicos e descobertas relacionadas às mudanças climáticas para informar a política e a ação global.

 


FONTE: https://nacoesunidas.org/temperatura-media-global-para-2016-2020-deve-ser-a-mais-alta-ja-registrada/