Com a morte de José Gregori, o Brasil perde uma figura notável, um homem cuja luta incansável em defesa da justiça, da democracia e dos direitos humanos serviu de inspiração à minha e a tantas outras gerações ao longo das últimas décadas.  

Durante seus mais de 60 anos de vida pública – como advogado, deputado estadual, secretário nos três níveis de governo, ministro e, finalmente, embaixador–, foi um exemplo de compromisso ético e de atuação profissional. 

Seus feitos em prol do país foram inúmeros. Integrou a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, um instrumento fundamental contra as violações de direitos humanos cometidas na ditadura. Em 1995, foi um dos principais responsáveis pela elaboração da Lei 9.140, que reconheceu como mortas as pessoas até então dadas como desaparecidas durante o regime militar. 

Na administração pública, teve passagens importantes como secretário estadual da Participação e da Parceria (1985-1987), secretário municipal de Direitos Humanos na gestão Gilberto Kassab, secretário nacional de Direitos Humanos (1997-2000) e ministro da Justiça (2000-2001) no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Já perto dos 90 anos, ajudou a fundar a Comissão Arns, grupo criado para monitorar violações de direitos humanos. 

Em agosto de 1977, José Gregori esteve no centro de um dos momentos-chave da luta pela redemocratização do país, ao fazer pronunciamento na noite da leitura da célebre "Carta aos Brasileiros" pelo professor Goffredo da Silva Telles. Então estudante da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, pude testemunhar, junto à multidão que se aglomerava no pátio da faculdade, aquele momento histórico. 

Quatro décadas depois, em 11 de agosto de 2022, pude vê-lo novamente no pátio das Arcadas em mais um momento importante da defesa da democracia. Dessa vez, ele como signatário e eu como um dos autores da "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito". 

Nesse arco de 45 anos, o Brasil sem dúvida mudou muito, mas José Gregori se manteve como referência incontornável para todos aqueles que almejam um Brasil mais justo. Durante toda a sua vida, nunca teve dúvidas quanto a que lado da história apoiar –o lado da democracia. Resta agora o seu legado, que não devemos esquecer.

 

*Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)